segunda-feira, 19 de julho de 2010

O uso correto do tempo


Por Morris Safdié

Podemos perceber que o tempo tem várias dimensões. Existe a dimensão material, do relógio, do calendário, das agendas, que podemos chamar de tempo externo. E existem outras, internas, imateriais. Por exemplo, quando estamos no meio de um engarrafamento de trânsito numa cidade grande, cinco minutos se arrastam e parecem muito longos. Mas quando estamos contemplando um pôr-do-sol, esses mesmos cinco minutos têm valor completamente diferente. Vê-se então que para a percepção subjetiva o tempo pode se contrair ou expandir, conforme nosso estado de espírito. Trata-se da vivência de uma dimensão interna do tempo, diferente daquela do tempo do relógio. Temos certa familiaridade com isso, embora nem sempre prestemos muita atenção ao fato. Enquanto o tempo do relógio é linear e está fora de nós, esse outro tempo está dentro de nós e depende da nossa atitude e sintonia.
Se pensamos não ter tempo para nada é sinal de que ainda estamos presos ao esquema material das coisas e das situações e de que não permitimos à energia da alma fluir em nós e por nosso intermédio. Não ter tempo é ser escravo de ritmos alheios, de condicionamentos, de programas. Mas podemos liberar-nos disso sem deixar de cumprir nossas tarefas.
A primeira providência a tomar é a de planejar o dia, a semana e, em alguns casos, o mês. E a partir daí ter clareza sobre as prioridades. Precisamos perguntar: “Qual é a prioridade da semana? E a de hoje? O que preciso alcançar, o que estou buscando? Qual é a minha meta?”
Ao procurar gerenciar o tempo da melhor forma possível, vamos ver que, conforme nossa meta, há atividades mais importantes e outras menos importantes. E veremos também que algumas são urgentes, enquanto outras não.
Estudos sobre esse tema mostram que se desempenhamos só atividades urgentes e importantes, se ficamos o tempo todo resolvendo crises e problemas, é sinal de que nos está faltando planejamento. Se, por outro lado, nos delongamos em atividades pouco importantes, desperdiçamos tempo. O ideal seria nos aplicarmos em atividades importantes e não urgentes. Assim poderíamos identificar oportunidades, planejar, e dessa forma evitar futuras urgências. Esse é um preceito prático que nos pode ajudar.
Contudo, o segredo não está no planejamento em si, mas na clareza quanto às prioridades. Sem ela, é difícil lidar com o tempo de forma correta. E só poderemos saber o que é mesmo prioritário se formos muito bem ordenados.
Algumas pessoas, ao despertarem de manhã, procuram ver tudo o que têm a fazer no dia. E às vezes vêem que são muitas as tarefas, mais do que caberia em seu programa. Porém, ao ofertarem o dia ao seu eu superior e ao se aquietarem diante desse quadro, vendo-o com desapego e distan-ciamento, enxergam que só há ali duas ou três tarefas de fato essenciais. Todo aquele acúmulo se desfaz e resta o que é realmente para ser feito. E com maior facilidade esses pessoas serão instrumentos para a obra do eu superior.
Pode ocorrer que, depois de planejarmos o dia e estabelecermos da melhor forma possível as prioridades, aconteça algo fora desse esquema. Devemos então perceber se aquilo é real, se deve mesmo ser atendido. Se estivermos conectados com nosso nível intuitivo e recebermos dele uma indicação, poderemos com tranqüilidade sair do esquema previsto.
Na nossa organização, é da maior importância não ficarem pendências. Tudo o que temos de fazer hoje, não deixemos para amanhã. Se estivermos em dia, sem atrasos, poderemos nos concentrar melhor em cada momento. E o presente é sagrado, é tudo. Toda a nossa vida entra em harmonia e fatos inusitados começam a suceder, como o da uma pessoa pedir-nos ajuda e vermos os compromissos marcados se desfazerem por si mesmos para permitir-nos atender aquela necessidade. Mas se ficarmos sempre correndo atrás das coisas, na ilusão de estarmos atarefados demais, o que é verdadeiramente importante não virá porque não nos encontrará receptivos.
Para lidarmos bem com o tempo material precisamos estar bem atentos ao que se passa. Por exemplo, enquanto conversamos com alguém, será que permanecemos inteiros ouvindo a pessoa ou já ficamos pensando no que vamos fazer depois? É essencial observarmos isso.
Se a alma permeia o que fazemos, entra em ação uma energia maior, que dá outra qualidade ao cotidiano. E se pode, como disse Paul Brunton, “fazer de cada ato uma reverência à vida”. Devemos reconhecer que todas as coisas têm valor, que nada deve ser banalizado. E passamos então a ser mais precisos, porque não ficamos antecipando com a mente o que vem em seguida. Tudo isso nos ajuda a entrar em outro ritmo, a fazer uso correto do tempo.
Mas para estarmos inteiros no momento, desapegados dos resultados da ação, não podemos ter dúvida de que aquela é a prioridade. Se houver dúvida, ficaremos divididos e a energia não fluirá. Vem a sensação de estar faltando algo. É aí que vamos prolongando inutilmente uma atividade. Do contrário, se soubermos ser aquela a prioridade e permanecermos concentrados no momento, tudo acontecerá e não haverá divisão. Se tivermos certeza de que devemos estar ali, nada mais contará. Poderá então ocorrer de a percepção do tempo externo deixar de existir e de entrarmos na sua dimensão imaterial. Continuaremos ali enquanto for preciso. Não um minuto, nem dois, nem cinco, mas o tempo necessário. E assim a ação adquire outra realidade. Transcenderemos a idéia de tempo e a idéia de que não temos tempo.
Quando alguém se conecta com o eu superior, sua vida externa fica influenciada pela interna. É por isso que os seres evoluídos sempre têm tempo para fazer tudo o que é importante.

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